domingo, 29 de dezembro de 2013

Carta 11

Recebida em dezembro de 1880, de K.H. para A.O.Hume

Postado por G. Melo


TEMAS:

AS LOJAS E A FRATERNIDADE UNIVERSAL – RESSURGIMENTO DE ANTIGA CIVILIZAÇÃO – RESSURGIMENTO PODE SER ACELERADO – PRÉ-REQUISITOS PARA ISSO – LOJA DE LONDRES E A PESTILÊNCIA DAS SOCIEDADES – CONCEITO DE MORALIDADE – OS FINS E OS MEIOS – VONTADE E IMAGINAÇÃO


Contextualização:

Esta carta é uma resposta à primeira (das três) cartas escritas por Hume ao Mahatma. Hume não esperou pela resposta da primeira e mandou outras duas cartas. Com isso o Mestre teve uma visão mais abrangente da personalidade de Hume e expõe, através de um elegante e claro pensamento filosófico, as diversas contradições de Hume, a maioria gerada por seu orgulho, pelo desdém aos hindus, pela crença de que pertencia a uma classe superior de homens, o que já pressupõe a consideração de que os hindus formassem uma classe inferior.  

Para responder a essas contradições, o Mestre dá diversas informações da mais alta importância, mas que precisamos praticamente costurar. Vamos deixar de lado o foco na questão das contradições propriamente ditas para focar as informações.


Sobre a Carta:

As Lojas, como precursoras da Fraternidade Universal

Em mais de um trecho o Mahatma dá esse conceito acerca das Lojas Teosóficas: precursoras da Fraternidade Universal. Distingue ao mesmo tempo Loja de Escola de Magia. Em uma passagem usa a expressão “precursora”, em outra, denomina “loja da Fraternidade Universal”.

Ora, precisamos levar em conta vários pontos abordados, para compreender em sua abrangência esse conceito aparentemente simples: loja da Fraternidade Universal.

O primeiro, não necessariamente o mais importante, diz respeito ao conceito de Fraternidade Universal, expresso na Carta 10:

: “....uma associação de “afinidades” de forças e polaridades fortemente magnéticas, embora diferentes, centradas em torno de uma ideia dominante. O que um não consegue fazer – muitos, juntos, podem alcançar.”

Seria a Loja o caminho para formar essa associação de “afinidades”? Qual a importância disso?

Aparentemente fora de contexto, o Mahatma comenta: “Nem nos sentimos, de modo algum, preocupados com o ressurgimento de nossas antigas artes e elevada civilização, porque elas certamente ressurgirão no momento certo, e de forma ainda mais elevada....” Na sequência: “Temos tendência a crer em ciclos que voltam sempre periodicamente e esperamos poder acelerar a ressurreição do que já passou e se foi. .....A “nova civilização” será apenas filha da antiga e nos basta deixar que a lei eterna siga seu curso para que nossos mortos saiam dos seus sepulcros; mas estamos certamente ansiosos por acelerar o desejado acontecimento.”

No mesmo parágrafo, duas vezes a menção a “acelerar” o ressurgimento de uma antiga civilização, que voltaria, em função do cumprimento de um ciclo, ainda mais grandiosa. Grandiosa em que sentido, poderíamos perguntar. No parágrafo seguinte há importantes pistas.

“Os guardiões da Luz Sagrada não atravessaram vitoriosamente tantos séculos para naufragarem batendo nas rochas do ceticismo moderno. Nossos pilotos são marinheiros demasiado hábeis para que tenhamos medo de tal desastre. Sempre acharemos voluntários para substituir  as sentinelas cansadas, e o mundo, mau como é no atual período de transição, ainda pode nos fornecer alguns homens de quando em quando.”

Poderíamos inferir que as lojas, ao serem entendidas como precursoras da Fraternidade Universal, natural para a associação de afinidades de forças e polaridades magnéticas, seriam as ferramentas para gerar homens de quando em quando para substituir as “sentinelas cansadas” dos guardiões da Luz Sagrada, base para o ressurgimento de uma civilização, que já existiu e que voltará? As lojas poderiam, se cumprido seu papel, ajudar a acelerar esse processo, ao produzirem esses voluntários?

É possível, mas está faltando alguns ingredientes nessa equação, como vemos em outro parágrafo o Mahatma falar da filantropia dos ingleses carecer de caráter universal, portanto (a filantropia) “nunca foi estabelecida sobre a base firme de um princípio moral universal”. Cita Kant que define como um grande pensador e que eles (os Mestres) analisaram os ensinamentos morais de Kant e concluíram que os ensinamentos sobre o dever que define os métodos de ação moral “não chegam a uma plena definição de um princípio incondicional e absoluto de moralidade, segundo nosso ponto de vista.” 

Na Carta 70C o Mahatma diz que "não conhece 'um círculo perfeitamente puro' - que ensina a mais alta moralidade. 

Essa filantropia dos ingleses, diz o Mestre, “não pode ser tomada como um padrão absoluto de atividade moral, isto é, algo que produza uma ação eficiente.”....”Essa espécie de filantropia é semelhante ao amor, mas algo acidental, excepcional, e como o amor tem suas preferências e afinidades egoístas, ela é necessariamente incapaz de aquecer toda a humanidade com seus raios benéficos. Esse, penso, é o segredo do fracasso espiritual e do egoísmo inconsciente desta época. E você (dirigindo-se a Hume).....sendo inconscientemente uma personificação deste espírito da época, é incapaz de compreender nossas ideias sobre a Sociedade como uma Fraternidade Universal...”

Em todo o texto Fraternidade Universal está em itálico e as iniciais maiúsculas.

Nos parágrafos anteriores, o Mestre acrescenta alguns ingredientes a essa equação, que vamos simplificar, não para retirar a beleza e profundidade do pensamento do Mahatma, mas apenas para não perdermos o fio da meada:

- o dever

-  o amor altruísta ao contrário de uma filantropia sem base moral

-  moralidade, como princípio universal e incondicional

- superação da época em que vivemos, de ceticismo 


Vamos tentar fechar a ideia, resumidamente:

1.    Há uma civilização espiritual, que já foi antiga, já passou, mas voltará.

2.   Esse retorno pode ser acelerado ou deixado a cargo da lei.  

3.   Essa forma de acelerar, que é interesse dos Mestres, passa pelo estabelecimento de uma Fraternidade Universal.  

4.   O conceito de Fraternidade Universal foi dado na Carta anterior: : “....uma associação de “afinidades” de forças e polaridades fortemente magnéticas, embora diferentes, centradas em torno de uma ideia dominante. O que um não consegue fazer – muitos, juntos, podem alcançar.” 

5.   A Loja Teosófica é a precursora dessa Fraternidade Universal, portanto dessa associação de forças e polaridades magnéticas. 

6.   Mas, para haver essa associação, ou ainda, o estabelecimento de forças e polaridades magnéticas, são necessários vários pré-requisitos, cujo desenvolvimento pode ser objetivo da Loja:  

(I)         o senso do cumprimento do dever;
(II)        o amor altruísta ao contrário de uma filantropia sem base moral, o qual seja capaz de "aquecer" a humanidade como os raios do sol;

(III)       a  moralidade, como princípio universal e incondicional;

(IV)      a superação da época em que vivemos, de ceticismo.


Mas, logicamente, não é tudo. Outras passagens podem jogar um pouco mais de luz. Vamos por tópicos:

A Loja de Londres

O Mestre lembra a Hume que, em Londres, houve uma tentativa de se instalar uma Escola de Magia. Dela fez parte Eliphas Levi, entre outros nomes famosos. O Mahatma confessa que visitou essa escola “meia dúzia de vezes” e percebeu que seria um fracasso. E qual seria a causa do fracasso?  “a pestilenta atmosfera de Londres”.

E completou: “ E essa é também a razão por que a S.T. não dá praticamente um só passo adiante. Seus membros pertencem à Fraternidade Universal, mas só de nome, e gravitam no melhor dos casos, para o quietismo, uma paralisia completa da alma. São intensamente egoístas em suas aspirações e colherão apenas a recompensa de seu egoísmo.”

Atenção aqui para o fato de que o Mahatma citou Fraternidade Universal como um sinônimo de ST. Mas uma ST cujos membros não se movimentam estão em “uma paralisia completa da alma”, devido ao egoísmo.

O que dizer de nosso tempo? Estamos também com nossas almas paralisadas? Gravitamos para o quietismo? Somos egoístas em nossas aspirações?


Podemos, então, acrescentar à lista anterior:

(v)       A superação do egoísmo em nossas aspirações espirituais.


Conceito de Moralidade ou Os fins e os Meios

O Mestre ensina: “Como o homem nasce com livre-arbítrio e dotado de razão da qual brotam todas as suas noções de bem e mal,  ele não representa per se nenhum ideal moral definido. O conceito de moralidade em geral se relaciona em primeiro lugar com a INTENÇÃO ou MOTIVO, e, só depois, com os meios e os modos de ação."

Ora, se há egoísmo nas aspirações espirituais dos integrantes da Loja de Londres, poderíamos dizer, usando outra construção frasal, que os membros tinham a intenção egoísta em suas aspirações espirituais. E essa é uma herança trazida da educação religiosa. Como nos educam? O importante não é cada um “se salvar”?

Teríamos nós, membros da ST, que mudar a estação e alterar a intenção para “salvar os outros”? A resposta pode ser sim, mas essa mudança de estação passa pela moralidade como princípio universal e incondicional e, por  que não dizer, do Amor também baseado em tal princípio, de tal forma que a humanidade se sinta aquecida como os raios do sol o fazem.

Mas ainda há um complemento: os meios e os modos de ação.

O Mestre cita dois tipos de ação:

a)    O homem que usa maus meios para bons propósitos;

b)    O homem que usa bons meios para maus propósitos.

Em outra Carta (posterior), o Mahatma dirá que a moralidade está ligada ao princípio de que “os fins não justificam os meios”. O segundo caso é óbvio, de tão imoral. Mas o primeiro, nem sempre foi compreendido. Se os fins são bons, culturalmente entendemos que serão lícitos os meios, mesmo que nem sempre éticos. De  tal forma há uma crença generalizada nisso que nossa sociedade produziu Robin Hood, o herói que roubava dos ricos para dar aos pobres.

Nesse ponto podemos acrescentar à lista:

(vi)          cuidar de nossas intenções, de nossas motivações, especialmente como  membros da ST;

(vii)     Compreender, como parte da moralidade,  que os fins não justificam os meios.

Consciência

Hume aborda a questão da consciência. E o Mestre questiona que “o HOMEM tem sempre um guia seguro em suas percepções morais íntimas, ou  - consciência? Grande erro!”

“....a consciência pode, talvez, nos indicar o que não devemos fazer, mas nunca nos guiará para o que devemos realizar, nem dará um objetivo definido à nossa atividade.”

O contexto desse tema está no fato que Hume argumenta que nunca seria mesmerizado. Que sua consciência o faria perceber o fato. O Mahatma discorda e afirma que a consciência nunca o faria perceber se o mesmerizador é um adepto ou um hábil impostor, “uma vez que ele tenha cruzado o limiar e obtido o controle da aura que circunda a sua personalidade.”

E, a partir de um comentário irônico, mas que poderia ter sido entendido por Hume como um alerta, sobre o “trabalho inocente de colecionar pássaros”, afirma que a “imaginação, assim como a vontade, cria”. 

Assim, cremos que é possível incluir na lista mais um item:

(viii)    Fortalecer a vontade e usá-la, com imaginação, a fim de criar......


......o que?

Poderíamos completar na frase da seguinte forma, com base na análise dessa Carta, sem prejuízo que outros o façam diferentemente:

.....a fim de criar LOJAS QUE EFETIVAMENTE ABRIGUEM MEMBROS COM A INTENÇÃO ESPIRITUAL DE AJUDAR PESSOAS A SE ASSOCIAREM, ESTIMULANDO O ALTRUÍSMO, O DEVER, A MORALIDADE, A VONTADE, PARA QUE A FORÇA E O MAGNETISMO DAÍ CONSTRUÍDOS POSSAM SER CENTRADOS EM TORNO DE UMA IDEIA DOMINANTE (uma delas o de acelerar o ressurgimento da antiga civilização!) E, ASSIM, GEREM HOMENS E MULHERES, VOLUNTÁRIOS QUE SUBSTITUAM  OS   SENTINELAS CANSADOS DO GUARDIÃO DA LUZ.



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sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Carta 10

Recebida depois do dia 1º de dezembro de 1880

TEMAS:

PRECONCEITO – CUMPRIR  PROMESSAS – ORGULHO – SINCERIDADE – MESMERISMO – VONTADE – FRATERNIDADE UNIVERSAL – BLAVATSKY NO TIBETE
 

SOBRE A CARTA (postada por G.Melo)


PRECONCEITO e as consequências disso:

A primeira parte da Carta (quase duas páginas) está destinada ao tema que podemos chamar PRECONCEITO.
 
Aqui, o Mestre reforça o que já disse na Carta 5, onde pergunta a Sinnett: "Meu bom irmão, você tem certeza de que a impressão agradável que você pode ter agora, ...., não seria instantaneamente destruída ao me ver?"
 
Nesta Carta 10, o Mahatma se refere a si mesmo como um "negro". "Poucas pessoas, ou talvez ninguém (claro que há exceções...) consentiriam jamais em ter um "negro" como guia ou líder, assim como nenhuma Desdêmona moderna escolheria um Otelo indiano". (As aspas na palavra negro são do Mestre, provável referência a diferença entre a cor do indiano e do africano)

Lembra também a crítica do Visconde de Amberley sobre o "Jesus mal-educado". E que a maioria dos anglo-indianos, entre os quais "o termo hindu ou asiático está geralmente ligado a uma ideia vaga, embora perceptível, de alguém que usa os dedos em vez de um pedaço de cambraia e que renuncia ao sabonete, iria, certamente, preferir um norte americano a "um tibetano sebento"."

É importante, para o estudo investigativo, lembrar que um teosofista inglês descreveu o Mestre K.H. da seguinte forma:

“O Mestre Kuthumi usa o corpo de um Brâmane da Caxemira, e tem uma aparência (compleição) tão boa quanto a da média dos homens ingleses. Ele tem, também, cabelos soltos, e Seus olhos são azuis e cheios de alegria e amor. Seus cabelos e barba são castanhos, os quais, sob a luz do sol, tornam-se avermelhados com reflexos dourados. Seu rosto é um pouco difícil de descrever, pois Sua expressão está sempre mudando quando Ele sorri; o nariz é finamente talhado, e os olhos são grandes e de um maravilhoso azul claro.”

É por isso que, se procurarmos as imagens dos Mestres no Google, sempre encontraremos homens de olhos azuis. Em outras palavras, Jesus com turbante. Ainda em outras palavras, seres cuja “compleição” seja tão boa quanto a dos homens ingleses: olhos azuis, nariz finamente talhado, cabelos que, à luz do sol, apresentam reflexos dourados. Evidente que a aparência dos indianos era incompatível com o que se espera de um mestre espiritual, na avaliação preconceituosa dos homens ocidentais.

Daí deduzirmos que o preconceito talvez seja um dos maiores desafios do homem ocidental que deseja encontrar o verdadeiro caminho espiritual. Ao mesmo tempo em que é desafio, é também uma armadilha.
 

CUMPRIR AS PROMESSAS

Um segundo tema abordado diz respeito à promessa que Sinnett fez de publicar o episódio do “broche”, como foi conhecido, e que está descrito em carta anterior, no jornal do qual era editor: The Pioneer.

Mas Sinnett não cumpriu a promessa. A demora em fazer essa narrativa resultou em um grande problema. O Cel. Olcott resolveu mandar uma carta com essa estória, acrescentando   os nomes dos envolvidos no episódio fenomênico. Um outro jornal se apropriou da carta e a publicou com críticas ferozes a H.P.B. As pessoas citadas não ficaram satisfeitas, naturalmente. O jornal se recusou a publicar uma defesa, que acabou sendo aceita por um terceiro jornal.


Foi, realmente, um episódio infeliz, sobre o qual o Mestre ainda não havia comentado efetivamente. Nesta Carta 10 ele o faz: “Se você tivesse sido o primeiro a fazer o relato, o Times of India nunca teria publicado “Um dia com a Senhora B.”.....”...vendo que você permanecia silencioso, nosso valente coronel sentiu a mão coçar até que trouxe tudo à tona, e – mergulhou tudo em obscuridade e consternação.”

Não podemos deixar de refletir sobre a relação causa – efeito: ao demorar em cumprir o prometido, Sinnett desencadeou uma série de efeitos indesejáveis.

Parece-nos que aqui está uma preciosa lição teosófica: a importância de analisarmos, com a atenção plena, o entrelaçamento de nossas ações e atitudes, para desencadearmos efeitos positivos e benéficos, ao invés do contrário.
 

Hume e o estereótipo do orgulho

Há uma evidente pergunta ou comentário de Sinnett ao Mahatma K.H. para uma troca súbita de assunto, que começa dessa forma: “Não discutiremos, no momento, se os seus fins e propósitos são tão profundamente diferentes dos do Sr. Hume; mas, sim, se ele pode ser estimulado por uma “filantropia mais pura e ampla”.”

É importante, antes de dar continuidade, comentar que as colocações do Mestre sobre o Sr. Hume devem ser compreendidas muito além daquela personalidade, mas trazida para os dias atuais e  nos contextualizar sobre nós mesmos. Existem muitos “Humes” entre nós. Pode existir um Hume escondido dentro de nós. Esta é uma personalidade comum. Cada um deve fazer a escolha de refletir sobre isso e verificar se não está inserido nesse estereótipo de ORGULHO.

Diz o Mestre sobre Hume: “O modo que ele escolhe para trabalhar e alcançar essas metas nunca o levará além de considerações teóricas sobre o assunto. É inútil tentar descrevê-lo de outro modo agora. A carta dele, que você logo lerá, é, como digo para ele, “um monumento ao orgulho e ao egoísmo inconsciente”.”

Continua o Mestre: “....sua atitude é a mesma: uma teimosa determinação de fazer com que tudo fique de acordo com suas próprias conclusões prévias ou eliminar o assunto de um só golpe com críticas irônicas e negativas. “

 
Motivação egóica x sinceridade

O Mestre afirma que Sinnett está agindo "mais por egoísmo do que por um amplo sentimento de benevolência pela humanidade". Mas, como ele  (Sinnett) reconhece isso e não monta qualquer pretexto filantrópico, o Mestre diz que a possibilidade de que Sinnett aprenda sobre ocultismo é maior do que as do Sr. Hume.

Vemos o Mestre colocar a sinceridade como um natural ingrediente para chegarmos ao ocultismo, mesmo que as motivações egoístas ainda não tenham evoluído para motivações altruístas. Seria a sinceridade mais difícil de obter como virtude do que a mudança de sintonia, do egoísmo para o altruísmo? Algo a ponderarmos e responder individualmente.


Mesmerismo

Sinnett parece forçar para obter do Mestre sinal verde para avanços em direção ao ocultismo. O Mestre fala na necessidade de se possuir “germes”, afirmação que fica um tanto hermética. Em seguida fala em “renúncia”, mas diz que isso seria tão inútil quanto cruel. Tampouco fica clara essa passagem.

Entretanto, completa, dizendo a Sinnet: TENTE. É a segunda carta em que ele incentiva Sinnett a tentar algo, mas, nesta, ele é específico: "Não se desespere. Una-se a vários homens e mulheres decididos e faça experiências com mesmerismo e os costumeiros fenômenos denominados "espirituais". Se agir de acordo com os métodos recomendados pode ter certeza de que, no final, obterá resultados". (as aspas na palavra espirituais são do Mestre)


Uma vontade forte

Diz o Mahatma: “Uma vontade forte cria situações e a simpatia atrai até mesmo os adeptos, cujas leis normais são antagônicas à mistura com o não iniciado.” (o itálico é do Mahatma)

O assunto ainda era o incentivo que ele dava a Sinnett de tentar, junto com outras pessoas,  a prática do mesmerismo.


Fraternidade Universal

Pela primeira vez, temos um conceito claro do que seja a FRATERNIDADE UNIVERSAL. Diz o Mahatma: "...uma associação de "afinidades" de forças e polaridades fortemente magnéticas, embora diferentes, centradas em torno de uma ideia dominante. O que um não consegue fazer - muitos, juntos, podem alcançar."


Força necessária para ser um Teosofista

Em uma passagem pequena, mínima, o Mahatma dá uma dica de grande importância. Ao comentar que os melhores espíritas britânicos poderiam, com orientação adequada, virem a ser teosofistas. Mas dois deles não parecem "ter a força necessária". 


Blavatsky no Tibete

É aqui, nesta carta, quase ao final, que podemos ver o registro de que H.P.B. realmente esteve no Tibete, fato que é possível não apenas ter se repetido, como se transformado em um exercício de se encontrar com seu Mestre, que sabemos ser Morya. Essa conclusão pode ser inferida pela resposta do Mestre a Sinnett sobre a impossibilidade de H.P.B. dar instruções práticas a Sinnett:

“Mas eu temo que ela gora tenha uma necessidade extrema de passar uma temporada recuperadora de alguns meses nas geleiras, com seu velho Mestre, antes que possa ser encarregada de tarefa tão difícil.”
 

sábado, 26 de outubro de 2013

Cartas 8 e 9

Carta 8, Carta de Hume ao Mahatma K.H. , 20 de novembro de 1880.

Postada por G. Melo

Esta carta é de Hume endereçada ao Mahatma K.H. Foi respondida pelo Mestre através da Carta 9. Por isso devem ser consideradas em conjunto.

Hume já começa nessa carta a mostrar o seu caráter e o nível de compreensão equivocado, do qual nunca se libertaria.  Diz ao Mestre: “....para mim é insuportável a ideia de que você me deixe de lado por causa de uma compreensão equivocada de meus pontos de vista.”

E inverte o argumento sobre a Ciência Oculta. Para deixar mais claro: a Ciência é denominada  oculta devido à cultura egoísta do homem. O altruísmo é uma das condições básicas para a ciência oculta ser revelada.  Mas Hume inverte a questão, afirmando que, se a ciência oculta fosse revelada, os homens abandonariam o materialismo. Evidentemente essa revelação viria com muitos fenômenos, tantos quantos fossem necessários para que o homem  ficasse convencido.

Hume não pergunta, nem argumenta. Ataca. “Só vocês possuem os meios de demonstrar aos homens comuns verdades desse tipo, mas parece que, presos a antigas regras, em vez de disseminar com entusiasmo esse conhecimento, vocês o envolvem numa nuvem tão densa de mistério que naturalmente a massa humana descrê de sua existência.” Em outra passagem: “....não pode haver justificativas para não dar claramente ao mundo os aspectos mais importantes da sua filosofia,...”.

O fato de os poderes advindos desse conhecimento serem mal empregados, e por isso justificar serem ocultos das massas,  é entendido por Hume. Mas isso não deveria ser empecilho, em sua opinião, desde que fossem “acompanhados por fenômenos bastante claros e suficientemente repetidos”.

Critica os elogios que o Mestre dera ao Cel. Olcott, chamando de “obediência cega” a relação do coronel com os Mestres e que isso desencadeia à perda da liberdade. Mas, “caso se pretenda que eu (Hume) receba em algum momento instruções para fazer isso ou aquilo sem compreender o por que......o assunto está encerrado para mim.”

 “Não sou uma máquina militar – sou inimigo jurado da organização militar, sou amigo e defensor do sistema industrial e cooperativo e não me unirei a nenhuma Sociedade ou entidade que pretenda limitar ou controlar o meu direito a julgamento pessoal......não desejo cavalgar nenhum princípio como um cavalinho de brinquedo...”

Ainda sobre Olcott...”nenhum de nós dois (ele e Sinnett) poderia aceita-lo como nosso verdadeiro guia...(o itálico está na Carta), porque sabemos que somos superiores a ele, intelectualmente.”

 
Carta 9, resposta do Mestre K.H., 1º de dezembro de 1880.

Temas:
 
ARROGÂNCIA - CONDIÇÕES PARA DESENVOLVIMENTO ESPIRITUAL - OS DEFEITOS DE CARÁTER QUE AFASTAM O HOMEM DA ESPIRITUALIDADE

Sobre a Carta: (postada por G. Melo)

O Mahatma responde para Sinnett. Parece que ficou abismado com a petulância de Hume, cujos argumentos, de tão descabidos, precisou de respostas francas, mas muitas vezes irônicas.

O Mahatma  começa sua resposta dizendo compreender perfeitamente, inclusive a sinceridade dos sentimentos de Hume. Mas  que eles “vem cobertos por uma grossa crosta de autossuficiência e teimosia que não podem despertar em mim (no Mestre) nada semelhante à simpatia.”

Sobre a LIBERDADE que a obediência retiraria, fala que “nenhum homem vivo é mais livre do que nós, depois que saímos do discipulado”. E, como discípulos, devem ser obedientes, mas não escravos. E essa seria a pedagogia correta, pois como aprender, passando todo tempo argumentando?

Alguns pontos são importantíssimos, pois valem para nós, homens do século XXI:

1 - .....”a vida que gira em torno de constantes discussões e críticas maledicentes.”

2 - .....”a ladainha monótona sobre os próprios pontos de vista.”

3 – A autoproclamada  superioridade intelectual ....Diz o mestre: “Homens como ele podem se tornar hábeis estadistas, oradores, o que você quiser mas – nunca Adeptos.”

4 - E o perfil de um homem “com intensa paixão por ouvir a si próprio”.

Mas o principal está no início da Carta, quando o Mestre refere-se que o Tibete, por eras inteiras, “tem sido o último canto do mundo não corrompido tão completamente a ponto de tornar impossível a mistura de duas atmosferas – a física e a espiritual”.

Pelo menos já sabemos o que os chineses foram fazer lá: corromper o último lugar do mundo!


 

Cartas 6 e 7

Recebidas em 03 de novembro de 1880 (6) e entre 3 a 20 de novembro (7)

Temas:

TRABALHO DOS MESTRES NA PROTEÇÃO DE PESSOAS E DE PAÍSES.
 

 Sobre a Carta (postado por G. Melo)

 As cartas 6 e 7 são pequenas mensagens. Em uma delas, o Mahatma apenas avisa que deseja mais tempo para responder as indagações de Sinnett. E justifica-se, deixando passar, pela primeira vez, que existe um trabalho de proteção por parte dos Mahatmas. Ele diz “Devemos tomar medidas para proteger eficazmente nosso país e fortalecer a autoridade espiritual......Talvez nunca, desde a invasão de Alexandre com suas legiões gregas, tenha havido tantos europeus armados tão perto de nossas fronteiras.....”

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Carta 5

Recebida em 03 de novembro de 1880


Temas:

PRECONCEITO – COMPROVAÇÃO DE FENÔMENOS – VALORES MORAIS E ESPIRITUAIS – FRATERNIDADE E MORALIDADE – DETURPAÇÃO DA APARÊNCIA DO MESTRE


Sobre a Carta (postado por G. Melo)

Na contextualização dessa Carta, há três questões importantes que vale a pena destacar.

A primeira deve-se a um desencontro de ações. Sinnett ficou de publicar o episódio da almofada. Como demorou, Olcott escreveu sobre o episódio citando o nome das pessoas presentes. O jornal Times, da Índia, descobriu a cópia dessa narração e publicou, com comentários injuriosos. Damodar (que era um discípulo), destinatário da narrativa de Olcott, escreveu um protesto que o Times se recusou a publicar. Contudo, o jornal Gazette de Bombaim publicou uma vigorosa resposta de H.P.B. sobre quem recaiu a responsabilidade, pois as pessoas citadas ficaram descontentes com a publicidade. Esses fatos, que geraram uma “crise” na ST, nos remetem ao tema CUMPRIMENTO DE PROMESSAS.

A segunda questão foi uma sequência de troca de correspondências, na qual o Mahatma parece que desejava dar a Sinnett mais uma prova de sua existência. Sinnett enviara uma carta registrada para H.P.B. para ser entregue ao Mahatma K.H. (um complemento a nota sobre o episódio da almofada). H.P.B. recebeu a carta registrada em 27 de outubro e a mandou imediatamente, por meios ocultos, às 14 horas. O Mahatma a recebeu às 14h05.  Como estava dentro de um trem na região atual do Paquistão, desceu na primeira estação e mandou um telegrama comunicando o recebimento da carta, que está datado e arquivado pelo agente de telégrafo. O Mestre instrui H.P.B. a devolver o envelope da Carta a Sinnett, que o guardou e, mais tarde, entendeu: a data e hora do registro da carta versus a data e hora do telegrama mostram que a carta só poderia ter sido entregue ao Mahatma por meios ocultos. Estes fatos nos falam da produção de FENÔMENOS como prova da existência dos Mahatmas.

A terceira refere-se a uma série de comentários do Mahatma sobre a questão da raça e cor, bem como a cultura dos ingleses que, à época, dominavam a Índia. Em seus argumentos o Mestre expõe a questão de sua própria legitimidade para os ingleses, visto que eles – “os melhores Adeptos, os mais eruditos e os mais santos são das raças dos ‘tibetanos sebentos’”. Trata-se do tema recorrente: PRECONCEITO.

 
REFLEXÕES

Esta é uma Carta extremamente rica. Nunca é demais lembrar que a carta de Sinnett não é conhecida. Podemos deduzir o tema pelas respostas do Mestre, algumas delas de cunho administrativo, acerca da condução da ST, o que frequentemente nos causa alguma perplexidade. Embora estranho para nós, é preciso ter em mente que o Mestre responde  tudo que Sinnett pergunta/questiona/argumenta. Essa troca permitiu a nós, homens e mulheres do século XXI, acesso a temas da mais absoluta relevância teosófica. Outra observação é sobre a comunicação elegante e fluente do Mahatma, que usa frequentemente argumentos filosóficos. Nesta carta (5), ele vai tocar em algumas questões primordiais para o desenvolvimento espiritual, tais como valores perdidos pela sociedade ocidental.

Para facilitar a reflexão acerca desta carta, ela será dividida por alguns dos temas encontrados:

 
O episódio da almofada e o cumprimento de promessas.

Sinnett ficou de publicar o episódio da almofada, mas não o fez. (O relato mais detalhado está acima.) A responsabilidade pelo vazamento da lista de pessoas e a publicação desonrosa do Times recaiu sobre H.P.B. Ela, então, pede socorro ao Mahatma. Este estava em algum lugar do Tibete quando os “telegramas” de H.P.B. (comunicação por meio oculto) chegam até ele como “pedras lançadas por uma catapulta”. K.H. faz um comentário brincalhão ao dizer, sobre Blavatsky e seu “telegrama”, que “nossa amiga não tem a resignação filosófica de um Marco Aurélio” (uma alusão ao estoicismo, corrente filosófica praticada pelo imperador Marco Aurélio). O Mahatma ainda é sutil  quanto ao fato de que Sinnett, se tivesse cumprido a promessa de publicar o episódio da almofada, nenhum problema havia acontecido. Em carta futura o Mestre abandona o sutil para ser mais explícito, embora sempre elegante.


Modos de entrega acelerada

O Mahatma registra que a carta de Sinnett foi recebida em Amritsar no dia 27 de outubro, às 4 horas da tarde, chegando-lhe às mãos cinco minutos depois, cerca de 48 km além de Rawalpindi. O Mestre telegrafa de Jhelum (local de parada  do trem em que se encontrava) acusando o recebimento às 4 horas da mesma tarde. Comenta, então, com Sinnett: “Nossos modos de entrega acelerada e comunicações rápidas não são, como vê, desprezíveis do ponto de vista do mundo ocidental.....”

Esforço, Dedicação e Imparcialidade

Ao discorrer sobre a carta do Cel. Olcott a Damodar (discípulo), roubada pelo jornal Times, acerca do episódio do broche, o Mestre K.H. aproveita para expor alguns valores. Enfatiza o esforço e a dedicação do Cel. Olcott: ...um homem capaz de “dormir em qualquer cama, trabalhar em qualquer lugar, confraternizar com qualquer pobre sem casta, suportar qualquer sofrimento pela causa....”.  “Onde poderíamos encontrar dedicação igual?”

Apesar dessa dedicação, o Mestre dá demonstração de profunda imparcialidade, ao reconhecer que Olcott não deveria ter ligação com a loja anglo-indiana.

Forma definida pelo Mestre para o funcionamento da ST

O desejo de Sinnett e Hume de manter a loja anglo-indiana independente da Sociedade matriz não foi aceita pelo Mestre. Criar essa independência seria “dar um golpe mortal na Sociedade Teosófica”. O correto seria manter a ligação, embora sem interferência dos fundadores. Essa parte do texto revela os primórdios da política acerca das lojas teosóficas. Elas são autônomas, mas não independentes da Sociedade em si.

Homens e não Mestres de Cerimônia

A carta é iniciada com uma menção às “convenções do mundo vazio”, o que tem muito pouca importância para os Mestres.  K.H. está dando um feedback positivo a Sinnett, uma vez que eles (os Mahatmas), afirma K.H., buscam HOMENS e não MESTRES DE CERIMÔNIAS, homens que apenas observam regras sociais, “cada vez mais um formalismo morto [está] ganhando terreno”. O Mestre afirma sentir-se “feliz em encontrar um aliado inesperado num setor em que não houve muitos.....entre as classes cultas da sociedade inglesa”.

Preconceito versus Respeito

O assunto continua sendo a proposta de Sinnett e Hume de criar uma loja anglo-indiana sem a ingerência dos fundadores da ST (H.P.B. e o Cel. Olcott), com a orientação direta do Mahatma K.H.  Nos textos já citados, o Mestre rechaça a independência da loja anglo-indiana da sociedade matriz e mantém “uma supervisão executiva puramente nominal” dos fundadores, lembrando que Olcott era um homem da mesma raça dos ingleses. Mesmo assim era desagradável aos olhos de Sinnett e Hume. É esse o ponto que é utilizado pelo Mahatma para fazer uma reflexão maior. “...vocês seguramente se rebelarão contra a orientação de um hindu, cujos métodos e costumes são os de seu próprio povo, e cuja raça, .....vocês ainda não aprenderam sequer a tolerar, para não falar de amar e respeitar.”

E faz uma comparação: “.....você sabe que o leão é proverbialmente uma fera suja e agressiva, a despeito da sua força e coragem”, frase que alude aos modos dos “melhores adeptos, os mais erudito e os mais santos [que] são das raças dos ‘ tibetanos sebentos’.”

 “Meu bom irmão – diz o Mestre, para completar seu argumento – você tem certeza de que impressão agradável que você pode ter agora, ....., não seria instantaneamente destruída ao me ver?”

Por que Sinnett e Hume teriam uma má impressão ao ver o Mestre pessoalmente? Certamente, porque ele tem a aparência de um hindu. Na carta 10, ele vai utilizar a palavra “negro”, assim, entre aspas, o que confirma sua descrição de si mesmo, um complemento à descrição dos “tibetanos sebentos”, obviamente na visão dos ingleses. Ainda diz de si mesmo: “”morador de cavernas, de aquém e além dos Himalaias”. A má impressão derivada do preconceito completou-se: (a) pela cor da pele; (b) pelos hábitos de higiene diferenciados; (c) pela raça  diferentes do biótipo inglês; (essa lista é maior!)

Mas o preconceito ainda era maior do que o Mestre descrevia. No século seguinte um autor descreveu o mestre como "loiro, de olhos azuis, cabelos castanhos que brilhavam à luz do sol", com uma aparência "tão boa quanto a da média dos homens ingleses".

 
Fraternidade e Moralidade

O Mestre encerra a carta dizendo que a “expressão “Fraternidade Universal” não é vazia de significado”, pois “é a única base segura para uma “moralidade universal”.” O que vem a ser a aspiração do “verdadeiro adepto”.

Observação: A fonte é sempre a correspondente Carta dos Mahatmas. Muitos trechos são copiados, mas a fala do(s) Mestre(s) serão apresentadas sempre "entre aspas".




terça-feira, 20 de agosto de 2013

Cartas 3, 3B, 3C e 4

Recebidas em 20 de outubro de 1880 e 27 de outubro de 1880 (a Carta 4C)


Tema:

FENÔMENOS PSIQUICOS


Contextualização (postada por G. Melo):

Na noite para 20 de outubro, Sinnett, que tanto desejava um encontro com o Mestre, protagonizou um fenômeno de encontro com ele e mais um outro Adepto (sinônimo de Mahatma). Sinnett conta que acordou e, em seguida, dormiu novamente e se viu no quarto ao lado, onde teria avistado o Mahatma K.H. e outro, mais tarde identificado como “Serapis” por Olcott, “o mais jovem dos Chohans”.

Poderia ter sido um sonho? Certamente que sim, mas durante o dia, em que haveria um piquenique pela manhã, Sinnett recebeu um bilhete do Mahatma, no qual legitimava a experiência vivida como um encontro real e, para que não houvesse “elemento de dúvidas”, ele, o Mahatma, havia pego algo e levado consigo.  Esse bilhete é a Carta 3A.

Durante o piquenique, H.P.B., repentinamente, avisou Sinnett que  K.H. perguntava onde eles queriam que o objeto que ele havia retirado da casa dos Sinnett na noite anterior fosse encontrado. H.P.B. não sabia do que havia acontecido (Sinnett afirma isso em sua obra "O Mundo Oculto").  E tampouco Sinnett sabia que H.P.B. recebera ordens de não sair de perto da Sra. Sinnett  toda manhã.

Foi escolhida uma almofada fechada que estivera todo o tempo  sob as vistas da Sra. Sinnett, portanto não haveria dúvidas.  A almofada foi aberta com dificuldade e dentro, primeiramente, foi encontrado um bilhete do Mahatma (Carta 3B) e, em seguida, um broche antigo e familiar da Sra. Sinnett, mas que curiosamente tinha agora inscritas as iniciais do Mahatma K.H.

No bilhete (Carta 3B), o Mahatma fala que o broche “foi colocado neste lugar bastante estranho” para mostrar como é fácil produzir um fenômeno real e como ainda mais fácil suspeitar de sua autenticidade, tese que ele defendia desde a primeira carta e que, por esse e outros motivos (já falados nas cartas anteriores), achava contraproducente a ocorrência de fenômenos como forma de convencer as pessoas da autenticidade da Sociedade Teosófica. No bilhete o Mahatma ainda fala “da dificuldade de que você falou na noite passada” em relação ao intercâmbio de cartas, pois H.P.B., que era o elemento de ligação entre eles, estava de partida de Simla. Essa menção revela que o Mahatma ouvira a conversa ocorrida entre os Sinnett durante o jantar.

Na Carta 3C, o Mahatma questiona o porquê Sinnett estava decepcionado pelo fato do Mahatma não ter respondido seu bilhete anterior, o que significa que o Mestre conseguia identificar sentimentos à distância. Ele diz a Sinnett que ainda lhe pedirá um favor, agora que ele havia se tornado a única pessoa que não tinha mais dúvidas. Referia-se assim às pessoas que ainda se mantinham céticas, mesmo depois de participarem de inúmeros fenômenos, o que prova que a tese do Mahatma, na Carta 1, estava certa.


Quanto a carta 4, é apenas um bilhete pequeno, de resposta a uma pergunta.


Observação: A fonte é sempre a correspondente Carta dos Mahatmas. Muitos trechos são copiados, mas a fala do(s) Mestre(s) serão apresentadas sempre "entre aspas".  


 

domingo, 18 de agosto de 2013

Carta 2

Recebida em 19 de outubro de 1880

 
Temas:

ADEPTO – CIÊNCIA OCULTA TEM SEUS MÉTODOS – SEGREDOS DA NATUREZA: MINORIA – MOTIVAÇÕES – INJUSTIÇA – FRATERNIDADE UNIVERSAL – INGRATIDÃO - REGRAS BÁSICAS DOS MESTRES.


Sobre a Carta (postado por G. Melo):

A Carta 2 é uma resposta à proposta de se criar uma Loja Anglo-Indiana, completamente independente da Sociedade Teosófica e de seus fundadores: H.P.B e Olcott.  Sinnet e Hume (amigo de Sinnett, cujo passatempo favorito era o estudo de pássaros) desejam contato direto com os Mestres. A carta, entretanto, foi escrita por Sinnet.

O Mestre K.H. reforça a informação da Carta 1 sobre a ciência oculta: “os mistérios nunca puderam e jamais poderão ser colocados ao alcance do público em geral”.  Os Adeptos – aqueles que conhecem a ciência oculta – são aqueles que obedecem “ao impulso interno da alma sem levar em conta as cautelosas considerações da ciência ou da inteligência mundana”.

O Mestre questiona as RAZÕES de Sinnet, para fazer a proposta de contato direto com os Mestres, pois, se aquele que deseja o Conhecimento abandona tudo e vai até os Mestres como Sinnet quer comunicar-se sem ao menos mudar seus “modos de vida” que, nas palavras do Mestre, “são diretamente hostis a tal tipo de comunicação”.

Como o mundo em geral não está preparado, o que significa, repetindo o que foi dito na Carta 1, que falta um “comportamento social e moral”, o qual seria a base para se conhecer as ciências ocultas; é preciso tratar com indivíduos isolados que buscam “ir além do véu da matéria até o mundo das causas primárias”.

Ambos querem esse tratamento – Sinnet e Hume. Então o Mestre analisa, primeiramente, as MOTIVAÇÕES,  especificamente as de Sinnet (e as relaciona, tais como na Carta de Sinnet, para evitar ser mal interpretado; aqui reproduzimos omitindo palavras, para sintetizar):

1.      Desejo de receber provas concretas e incontestáveis de que existem forças na natureza desconhecidas da ciência;

2.      Esperança de apropriar-se delas algum dia (quanto mais cedo melhor), de modo a capacitar-se para:

a)      Demonstrar a sua existência a algumas poucas pessoas do mundo ocidental;

b)     Contemplar a vida futura como uma realidade objetiva construída sobre o Conhecimento e não sobre a fé; e

c)      Saber toda a verdade acerca das Lojas e dos Mestres, adquirindo certeza de que os Irmãos existem (essa motivação foi classificada como a mais oculta e a mais importante).

O Mestre afirma que essas motivações parecem dignas e sinceras, mas sob a ótica ocidental. São, entretanto, egoístas. Enfatiza que “as mais elevadas aspirações pelo bem estar da humanidade ficam manchadas pelo egoísmo se houver uma sombra de desejo de autobenefício ou uma tendência para fazer injustiça, mesmo quando ele é inconsciente disso.”

(Vai explicar essa questão da injustiça mais a frente.)

Ele lembra que Sinnet sempre argumentou contra a ideia da Fraternidade Universal, questionou sua utilidade e propôs uma escola de ocultismo. A isso o Mestre responde que nunca ocorrerá.

Agora, o Mahatma segue para analisar as CONDIÇÕES propostas por Sinnet para ajudar a Sociedade Teosófica. Essas condições implicam, além de total independência dos fundadores da ST, um contato direto com os Mestres, que viriam até eles, Sinnet e Hume.  

 Para começar o Mestre diz que a “primeira e mais importante das nossas objeções está em nossas Regras”. Segundo essas regras, “a porta é aberta quando o homem certo bate nela”. O discípulo vai ao Mestre e não o contrário, como propõem Sinnet e Hume. E quando chegar, este homem deverá ficar até ser capaz de comprovar que pode manter em sigilo os mistérios.

E lembrou que H.P.B. já havia passado desta etapa e Olcott em breve passaria. Então, refletiu para Sinnet a improcedência da proposta de criar uma Loja independente dos dois fundadores. Além, é claro, de constituir uma injustiça, seria uma ingratidão da parte dos Mestres em relação a H.P.B. e Olcott.

E finalizou que se eles queriam formar uma nova loja, ela teria de ser ligada a ST e “contribuir com sua vitalidade e utilidade para promover a ideia básica de uma fraternidade universal.”
 
 
 
Sobre a Carta (postado por E. Oliveira):
 
Nesta carta, o Mestre fala também do indivíduo que deseja se dedicar ao estudo da Ciência Oculta. Uma vez transposto o limiar do mundo invisível não deve determinar seu progresso dali para a frente e ainda deve ser guiado por um Mestre.
 
O homem que decidiu estudar os Mistérios da Ciência Oculta não deve se esconder, mas proclamar isso em voz alta, a despeito de todos os obstáculos. O Mestre cita, inclusive, um ditado cristão: "O Reino dos Céus é obtido pela força."


Observação: A fonte é sempre a correspondente Carta dos Mahatmas. Muitos trechos são copiados, mas a fala do(s) Mestre(s) serão apresentadas sempre "entre aspas".