Postado por G. Melo
TEMAS:
AS LOJAS E A
FRATERNIDADE UNIVERSAL – RESSURGIMENTO DE ANTIGA CIVILIZAÇÃO – RESSURGIMENTO PODE
SER ACELERADO – PRÉ-REQUISITOS PARA ISSO – LOJA DE LONDRES E A PESTILÊNCIA DAS
SOCIEDADES – CONCEITO DE MORALIDADE – OS FINS E OS MEIOS – VONTADE E IMAGINAÇÃO
Contextualização:
Esta carta é
uma resposta à primeira (das três) cartas escritas por Hume ao Mahatma. Hume
não esperou pela resposta da primeira e mandou outras duas cartas. Com isso o
Mestre teve uma visão mais abrangente da personalidade de Hume e expõe, através
de um elegante e claro pensamento filosófico, as diversas contradições de Hume,
a maioria gerada por seu orgulho, pelo desdém aos hindus, pela crença de que
pertencia a uma classe superior de homens, o que já pressupõe a consideração de
que os hindus formassem uma classe inferior.
Para
responder a essas contradições, o Mestre dá diversas informações da mais alta
importância, mas que precisamos praticamente costurar. Vamos deixar de lado o
foco na questão das contradições propriamente ditas para focar as informações.
Sobre a Carta:
As Lojas, como precursoras da Fraternidade Universal
Em mais de um
trecho o Mahatma dá esse conceito acerca das Lojas Teosóficas: precursoras da
Fraternidade Universal. Distingue ao mesmo tempo Loja de Escola de Magia. Em
uma passagem usa a expressão “precursora”, em outra, denomina “loja da
Fraternidade Universal”.
Ora,
precisamos levar em conta vários pontos abordados, para compreender em sua
abrangência esse conceito aparentemente simples: loja da Fraternidade
Universal.
O primeiro,
não necessariamente o mais importante, diz respeito ao conceito de Fraternidade
Universal, expresso na Carta 10:
: “....uma
associação de “afinidades” de forças e polaridades fortemente magnéticas,
embora diferentes, centradas em torno de uma ideia dominante. O que um não
consegue fazer – muitos, juntos, podem alcançar.”
Seria a Loja
o caminho para formar essa associação de “afinidades”? Qual a importância
disso?
Aparentemente
fora de contexto, o Mahatma comenta: “Nem nos sentimos, de modo algum,
preocupados com o ressurgimento de nossas antigas artes e elevada civilização, porque
elas certamente ressurgirão no momento certo, e de forma ainda mais elevada....”
Na sequência: “Temos tendência a crer em ciclos que voltam sempre
periodicamente e esperamos poder acelerar a ressurreição do que já
passou e se foi. .....A “nova civilização” será apenas filha da antiga e nos
basta deixar que a lei eterna siga seu curso para que nossos mortos saiam dos
seus sepulcros; mas estamos certamente ansiosos por acelerar o desejado
acontecimento.”
No mesmo
parágrafo, duas vezes a menção a “acelerar” o ressurgimento de uma antiga
civilização, que voltaria, em função do cumprimento de um ciclo, ainda mais
grandiosa. Grandiosa em que sentido, poderíamos perguntar. No parágrafo
seguinte há importantes pistas.
“Os guardiões
da Luz Sagrada não atravessaram vitoriosamente tantos séculos para naufragarem
batendo nas rochas do ceticismo moderno. Nossos pilotos são marinheiros
demasiado hábeis para que tenhamos medo de tal desastre. Sempre acharemos
voluntários para substituir as
sentinelas cansadas, e o mundo, mau como é no atual período de transição, ainda
pode nos fornecer alguns homens de quando em quando.”
Poderíamos
inferir que as lojas, ao serem entendidas como precursoras da Fraternidade
Universal, natural para a associação de afinidades de forças e polaridades magnéticas,
seriam as ferramentas para gerar homens de quando em quando para substituir as “sentinelas
cansadas” dos guardiões da Luz Sagrada, base para o ressurgimento de uma
civilização, que já existiu e que voltará? As lojas poderiam, se cumprido seu
papel, ajudar a acelerar esse processo, ao produzirem esses voluntários?
É
possível, mas está faltando alguns ingredientes nessa equação, como vemos em
outro parágrafo o Mahatma falar da filantropia dos ingleses carecer de caráter
universal, portanto (a filantropia) “nunca foi estabelecida sobre a base firme
de um princípio moral universal”. Cita Kant que define como um grande pensador
e que eles (os Mestres) analisaram os ensinamentos morais de Kant e concluíram que
os ensinamentos sobre o dever que define os métodos de ação moral “não chegam a
uma plena definição de um princípio incondicional e absoluto de moralidade,
segundo nosso ponto de vista.”
Na Carta 70C o Mahatma diz que "não conhece 'um círculo perfeitamente puro' - que ensina a mais alta moralidade.
Essa filantropia dos ingleses, diz o Mestre, “não pode ser tomada como um padrão absoluto de atividade moral, isto é, algo que produza uma ação eficiente.”....”Essa espécie de filantropia é semelhante ao amor, mas algo acidental, excepcional, e como o amor tem suas preferências e afinidades egoístas, ela é necessariamente incapaz de aquecer toda a humanidade com seus raios benéficos. Esse, penso, é o segredo do fracasso espiritual e do egoísmo inconsciente desta época. E você (dirigindo-se a Hume).....sendo inconscientemente uma personificação deste espírito da época, é incapaz de compreender nossas ideias sobre a Sociedade como uma Fraternidade Universal...”
Na Carta 70C o Mahatma diz que "não conhece 'um círculo perfeitamente puro' - que ensina a mais alta moralidade.
Essa filantropia dos ingleses, diz o Mestre, “não pode ser tomada como um padrão absoluto de atividade moral, isto é, algo que produza uma ação eficiente.”....”Essa espécie de filantropia é semelhante ao amor, mas algo acidental, excepcional, e como o amor tem suas preferências e afinidades egoístas, ela é necessariamente incapaz de aquecer toda a humanidade com seus raios benéficos. Esse, penso, é o segredo do fracasso espiritual e do egoísmo inconsciente desta época. E você (dirigindo-se a Hume).....sendo inconscientemente uma personificação deste espírito da época, é incapaz de compreender nossas ideias sobre a Sociedade como uma Fraternidade Universal...”
Em
todo o texto Fraternidade Universal
está em itálico e as iniciais maiúsculas.
Nos
parágrafos anteriores, o Mestre acrescenta alguns ingredientes a essa equação,
que vamos simplificar, não para retirar a beleza e profundidade do pensamento
do Mahatma, mas apenas para não perdermos o fio da meada:
-
o dever
- o amor altruísta ao contrário de uma
filantropia sem base moral
-
moralidade, como princípio universal e
incondicional
-
superação da época em que vivemos, de ceticismo
Vamos
tentar fechar a ideia, resumidamente:
1.
Há uma civilização espiritual, que já foi antiga, já passou, mas
voltará.
2.
Esse retorno pode ser acelerado ou deixado a cargo da lei.
3.
Essa forma de acelerar, que é interesse dos Mestres, passa pelo
estabelecimento de uma Fraternidade Universal.
4. O conceito de
Fraternidade Universal foi dado na Carta anterior: : “....uma associação de “afinidades” de
forças e polaridades fortemente magnéticas, embora diferentes, centradas em
torno de uma ideia dominante. O que um não consegue fazer – muitos, juntos,
podem alcançar.”
5.
A Loja Teosófica é a precursora dessa Fraternidade Universal, portanto
dessa associação de forças e polaridades magnéticas.
6.
Mas, para haver essa associação, ou ainda, o estabelecimento de forças e polaridades magnéticas, são necessários vários pré-requisitos, cujo
desenvolvimento pode ser objetivo da Loja:
(I)
o senso do cumprimento do dever;
(II)
o amor altruísta ao contrário de uma filantropia sem base moral, o qual seja capaz de "aquecer" a humanidade como os raios do sol;
(III)
a moralidade, como princípio
universal e incondicional;
(IV)
a superação da época em que vivemos, de ceticismo.
Mas,
logicamente, não é tudo. Outras passagens podem jogar um pouco mais de luz.
Vamos por tópicos:
A Loja de Londres
O
Mestre lembra a Hume que, em Londres, houve uma tentativa de se instalar uma
Escola de Magia. Dela fez parte Eliphas Levi, entre outros nomes famosos. O
Mahatma confessa que visitou essa escola “meia dúzia de vezes” e percebeu que
seria um fracasso. E qual seria a causa do fracasso? “a
pestilenta atmosfera de Londres”.
E
completou: “ E essa é também a razão por que a S.T. não dá praticamente um só
passo adiante. Seus membros pertencem à Fraternidade Universal, mas só de nome,
e gravitam no melhor dos casos, para o quietismo, uma paralisia completa da
alma. São intensamente egoístas em suas aspirações e colherão apenas a
recompensa de seu egoísmo.”
Atenção
aqui para o fato de que o Mahatma citou Fraternidade Universal como um sinônimo
de ST. Mas uma ST cujos membros não se movimentam estão em “uma paralisia completa da alma”,
devido ao egoísmo.
O
que dizer de nosso tempo? Estamos também com nossas almas paralisadas?
Gravitamos para o quietismo? Somos egoístas em nossas aspirações?
Podemos,
então, acrescentar à lista anterior:
(v)
A superação do egoísmo em nossas aspirações espirituais.
Conceito de
Moralidade ou Os fins e os Meios
O
Mestre ensina: “Como o homem nasce com livre-arbítrio e dotado de razão da qual
brotam todas as suas noções de bem e mal, ele não representa per se nenhum ideal moral definido. O conceito de moralidade em
geral se relaciona em primeiro lugar com a INTENÇÃO ou MOTIVO, e, só depois,
com os meios e os modos de ação."
Ora,
se há egoísmo nas aspirações espirituais dos integrantes da Loja de Londres,
poderíamos dizer, usando outra construção frasal, que os membros tinham a
intenção egoísta em suas aspirações espirituais. E essa é uma herança trazida
da educação religiosa. Como nos educam? O importante não é cada um “se salvar”?
Teríamos
nós, membros da ST, que mudar a estação e alterar a intenção para “salvar os
outros”? A resposta pode ser sim, mas essa mudança de estação passa pela moralidade como princípio universal e incondicional e, por que não dizer, do Amor também baseado em tal princípio, de tal forma que a humanidade se sinta aquecida como os raios do sol o fazem.
Mas
ainda há um complemento: os meios e os modos de ação.
O
Mestre cita dois tipos de ação:
a) O homem que usa maus meios para bons
propósitos;
b) O homem que usa bons meios para maus
propósitos.
Em
outra Carta (posterior), o Mahatma dirá que a moralidade está ligada ao
princípio de que “os fins não justificam os meios”. O segundo caso é óbvio, de
tão imoral. Mas o primeiro, nem sempre foi compreendido. Se os fins são bons, culturalmente
entendemos que serão lícitos os meios, mesmo que nem sempre éticos. De tal forma há uma crença generalizada nisso
que nossa sociedade produziu Robin Hood, o herói que roubava dos ricos para dar
aos pobres.
Nesse
ponto podemos acrescentar à lista:
(vi) cuidar de nossas intenções, de nossas motivações, especialmente como membros da ST;
(vii) Compreender, como parte da moralidade, que os fins não justificam os meios.
Hume
aborda a questão da consciência. E o Mestre questiona que “o HOMEM tem sempre
um guia seguro em suas percepções morais íntimas, ou - consciência?
Grande erro!”
“....a
consciência pode, talvez, nos indicar o que não devemos fazer, mas nunca nos
guiará para o que devemos realizar, nem dará um objetivo definido à nossa
atividade.”
O
contexto desse tema está no fato que Hume argumenta que nunca seria
mesmerizado. Que sua consciência o faria perceber o fato. O Mahatma discorda e
afirma que a consciência nunca o faria perceber se o mesmerizador é um adepto
ou um hábil impostor, “uma vez que ele tenha cruzado o limiar e obtido o
controle da aura que circunda a sua personalidade.”
E,
a partir de um comentário irônico, mas que poderia ter sido entendido por Hume
como um alerta, sobre o “trabalho inocente de colecionar pássaros”, afirma que
a “imaginação, assim como a vontade, cria”.
Assim,
cremos que é possível incluir na lista mais um item:
(viii)
Fortalecer a vontade e usá-la, com imaginação, a fim de criar......
......o
que?
.....a fim de criar LOJAS QUE EFETIVAMENTE ABRIGUEM MEMBROS COM A
INTENÇÃO ESPIRITUAL DE AJUDAR PESSOAS A SE ASSOCIAREM, ESTIMULANDO O ALTRUÍSMO,
O DEVER, A MORALIDADE, A VONTADE, PARA QUE A FORÇA E O MAGNETISMO DAÍ
CONSTRUÍDOS POSSAM SER CENTRADOS EM TORNO DE UMA IDEIA DOMINANTE (uma delas o de acelerar o ressurgimento da antiga civilização!) E, ASSIM, GEREM
HOMENS E MULHERES, VOLUNTÁRIOS QUE SUBSTITUAM OS SENTINELAS CANSADOS DO GUARDIÃO DA LUZ.
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